sobre clichês e/ou desamores

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

seus suspiros reverberavam nos quatro cômodos daquela casinha de vigas soltas, mais mal apertadas que a razão por estar ali, nua.
os corpos ajeitavam-se quase no fim de uma ruela, onde os sons ecoavam até chegar aos ouvidos ébrios de um pierrot atordoado. como pôde, amar essa prostituta? queria envolver suas mãos em volta daquele pescoço tão... tão doce. podia sentir seu perfume misturar-se em meio aos gemidos que aumentavam.
- Colombina!
- mas com que diabos... quem te chama, Colombina?
a moça virou o rosto para o lado, exibindo suas dores e pedindo à arlequim que fosse embora.
o moço, exibia sua frustração e abotoava as calças com resmungos. Colombina era uma vadia, mas ele também não entendia de fidelidade.
e a voz... invadia a moça por dentro e por fora.
- Colombina!
...o que provocou um acesso de choro.
- pierrot, pierrot!
o palhaço - o palhaço! correu para os braços daquela mulher, que ainda cheirava à homem. outro homem. outros beijos - e cobriu os cabelos de sua amada com os seus, jurando matar arlequim. todos eles.
- por que, Colombina, por quê? - E enrolou com força uma mecha de seus fios dourados num dos dedos, puxando com delicadeza e impaciência - ou com o que homens como ele chamam de raiva.
- não pergunte... pelos deuses, não me pergunte o que eu finjo não saber!
e enterrou o rosto, lavado de lágrimas e maquiagem barata, no peito de pierrot. sentiu o seu aroma doce, e o coração bater apressado. inevitavelmente, desejou o cheiro de suor e a respiração ofegante. mas não vindas daquele rapaz, tão limpo e tão longe da simplicidade asquerosa do sexo.
mais uma vez: distorções, dentes. raiva, receio. carne e pêlos.vaidade. gritos...murmures. com uma maçã na boca.
mas aquele homem, tão suave que chegava a ser ralo, trazia, em seu lugar, um coração.
- leve para outra, meu amor! jamais encardirei o que tem de tão precioso... não, não me toque pois sou filha do pecado! Perfídia, esse seria um bom nome para mim. não soa como uma planta colorida, mas venenosa? – e aproximou-se do palhaço (do palhaço!), como uma serpente – Perfídia, meu querido... Perfídia...
insinuou beijar seus lábios, mas rapidamente caiu em descontrole. soluçava infantilmente.
- meu amor, meu amor! por que chora tanto? meu corpo, minhas lágrimas, meu coração...são seus! – sussurrou pierrot, em desespero e um quase contentamento. beijou cada centímetro de seu rosto. seus, são seus.. leve, leve...
- não seja patético, pierrot! Acerta-me no rosto e vai embora, porque sou uma puta. deixe-me escorrer pelos esgotos da volúpia!
mas hesitou logo em seguida:
-não; fique. eu vou. para sempre... adeus, mon amour.
... e saiu às pressas, escondendo o choro com as mãos.
salaud, salope, sussurrou o apaixonado, começando a gargalhar sarcasticamente; engolindo o resto de um vinho barato que achara na cabeceira daquela cama nojenta; decidindo também experimentar um pouco de luxúria. santé!

7 comentários:

Candy disse...

é infinitamente sexy,doce e poético!
Sua vacona!

Beto Martins_Guziej disse...

me ajuda a atualizar?
SEMPRE?
tenho muitas idéias...pouco tempo
help me
bjos
guziej

Anônimo disse...

Conseguiu expremir este sentimento frigido de estupro? Que graça acho quando tenta persuadir outrem sob suas mazelas. Nem te conheci porem ja sei! Ser ou nao ser, prefiro nao ser, pois ser reque demais e ainda n eh tempo.
Outro axioma do Socrates mendigo, conhecate a ti mesmo.. quantos alienados por opcao e aculpa eh d quem?
bjo

Dayane Abreu disse...

Eu achei lindo, e agora?

curvo disse...

você é uma santa,
diabolicamente divina.
não pelo que espalha de purpurinas ou enfeites mais, mas pelas chamas que inflamas ao brincar.

soube de um anjo que acreditou em sua poesia, e mesmo sabendo falsa aquela maravilha, deixou-se viciar. desceu dos ladrilhos ao ralo e, com chuveiro ligado, calou-se.

saudade ao pé do ouvido,
desejo de nuca e beijo,
receio pelo impossível.

e ele ficou assim, meio bossa nova e rock`n roll... mas suspeito que também seja mentira, sabe como são os anjos hoje em dia...

carol disse...

soube também desse anjo,
que de tão ousado rabiscou com giz de cera suas asas - sabe como são os anjos hoje em dia...
surgiu no pé do ouvido de uma fada, e sussurrou o impossível.

-sorriu! e, com o mesmo giz, enfeitou seu rosto de cores e de beijos... com dois ou três movimentos, transformou a agilidade de seu rock'n'roll em uma suave melodia. havia de ser uma harpa - leu, quando criança, que anjos com cachos doces a tocavam -, mesmo nunca tendo ouvido antes o som de uma.
a canção ainda ecoa em seus ouvidos, e ela não se preocupa muito em dar um nome para esse ritmo, nem para seus receios: tem muitas bolhas pra estourar, muitos sonhos pra contar e um pouco de purpurina... bem, para assoprar.

curvo disse...

caraca, espero que ele leia isto! acho que diria algo como "água de beber, camará". eu mesmo fiquei embebecido com esse sopro...