Joana,

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

andei pensando em você; em nós. em nós e na nossa desordem - no seu caos em que eu me engolfei sem pensar em mais nada. éramos a doce sinfonia da loucura de crescer. lembra? eu ainda guardo tudo isso aqui, bem dentro, bem fundo, no intocável e no sagrado da minha história. e eu queria tanto, tanto, te contar desses anos que se passaram, que correram mais rápido que as horas que passávamos vomitando álcool e entrelinhas. mas você foi, e eu fui... eu fui pra bem longe de onde você está agora, que deve também estar bem longe do que eu aprendi sem você por perto. será que ainda convergimos? será que nosso oposto ainda converge num silêncio cúmplice respeitoso? joana, me desculpa por estar de platéia na hora do desespero, por aplaudir sua fuga, enganada. eu tinha 15 anos, e a revolta era a coisa mais linda desse mundo. de repente você já não era mais o que faltava em mim, e eu não soube suportar isso, da mesma maneira que você também não soube, quando te notei distraída e longe, olhando pro meu almoço; você só pediu um suco, e aí a gente nunca mais se viu. porcelana, vidro, papel... quão frágil era a nossa amizade? quanto de mim também tinha em você, quando também me confessou timidamente seu receio de se encontrar com meus 21, e não saber o que dizer sobre o cigarro e o corte de cabelo? é que tudo tomou um rumo tão doido, jo. e eu sei que isso aconteceu porque foi exatamente tudo dentro do esperado; a gente só se sustentaria no acaso e no fluxo, planejamento nunca teve nada a ver com a nossa história, e isso fica tão óbvio quando leio o que escrevíamos juntas, sem nenhum pudor, sem nenhum real - porque não passava da abstração do mesmo furacão que revolvia nossos estômagos cheios de vinho barato, náusea e pipoca doce. não tinha lugar pra mais ninguém. agora tem, não? me conta do seu casamento, dessa coisa louca que é construir muros em volta de duas pessoas que não querem se perder. quero te ver assim, territorializada e sóbria. você deve estar bonita e contente, tem algo que me diz isso porque também tem algo que me faz sentir que nós ainda somos reticências e não a fatalidade de um ponto final. hoje tá um dia bonito aqui, sol, você ainda prefere os chuvosos e a calma? eu não tenho pressa, jo, eu não tenho pressa mas os anos me engolem e eu não consigo me agarrar a nada... eu toco, toco, um suave toque de efêmero e nessa enchorrada, espero que você tenha algo bem forte pra quando eu tocar sua campainha, verborrágica e boba como sempre, querendo te contar tudo com olhos de criança, só pra assistir você me olhar com cara de sarro e de porre, como naquele tempo aonde tudo era... ah, você sabe o que era tudo aquilo...