mais uma sobre doces industriais

sábado, 13 de agosto de 2011

- Laura, eu quero que você entenda o que eu digo, literalmente, quando falo de bizarrice: tenta, assim como você separa feijão, separar a coisa do que falam da coisa, e pense o quão bizarro é alguém enfiar o dedo no seu cu, lamber, gemer, eu-mau-hálito-de-manhã, eu-criança-com-vinte-e-poucos, eu que sei seu prato, animal, música, escritor, cerveja favoritos, medo-desejo secretos e, noutro dia, depois de decidir não mais te dizer e fazer essas coisas, desviar do seu caminho assim, com se a afronta olho-no-olho fosse o julgamento do limbo. É quase a mesma coisa que dar de cara com seu terapeuta no supermercado, e ficar de cócoras na prateleira mais baixa, examinando demoradamente sei lá, alcaparras, talvez, coisas que você nunca vai ter grana pra comprar, só pra não ter que cumprimenta-lo depois de fazer birra no seu consultório, chorando que não é justo, não é justo? Qual é a diferença disso tudo e de uma criança assustada, frente o motorzinho do dentista, pela primeira vez? Dá pra dar significado pra uma loucura dessas, dá pra fazer uma loucura dessas, se não tivéssemos nos tratando como esses doces baratinhos de abóbora, em formato de – olha que irônico – coração?