racio símio

domingo, 22 de maio de 2011

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- fico aqui pensando, esses devaneios de madrugada… quem seria a culpa, senão filha da mentira?

e a realidade, senão sobrecargo de fantasia?

sobre bolhas de sabão

sexta-feira, 20 de maio de 2011

ele é curioso, ela, inquieta.

- fico feliz por você ter entendido minha indireta.

eles, amigos há anos.

- foi uma indireta, mesmo? – inquieta, o cigarro chegando ao final, não sabia como correr; passou o dedo pelas bordas do copo.

caminharam até a casa de Sabrina, que já entendia dos perigos do silêncio. Falava sem parar: como vai o seu namoro?

- então, até mais.

- é, até...
- amanhã.

naquela noite, Lucas havia feito um convite. caso aceitasse, caberia a Sabrina ignorar muita coisa. e fechou o portão. instantaneamente, sentiu-se embalada não pelo excesso de álcool, mas por uma brisa leve de desejo. “leve” aqui poderia ser entendido de duas maneiras: leve, no que se refere a quase peso nenhum, tampouco importância; e leve, que se aproximava e então se soltava de qualquer tentativa de entendimento – e, por isso, se afastava desse vício de ter um cérebro, pairando, por que não? foi o que a fez parar e olhar o portão fechado, roer uma unha, por que não?

mas o carro de Lucas já se afastava.

***

Sabrina chegou em sua casa. bêbada demais para dormir, e bêbada demais para pensar; distrair, fingir que não era quase nada, era o que restava. ocasionalmente, o mundo das relações virtualmente estabelecidas, triviais, descomedidas, frígidas, se recusava a funcionar. Sabrina, a rede está fora do ar!

e Sabrina não conseguiu se distrair: “por quê não”?

- alo? Lucas... saideira? na minha casa.

nessa mesma noite, Sabrina aceitou, através de outro convite, o convite feito por Lucas – e agora também se responsabilizava pela lua cheia. então, Lucas voltou: em um outro lugar, através de um outro convite – e de outra troca de olhares. reformula-se: Lucas chegou.

em um beijo, milhares de anos de convenções, determinações e, principalmente, a sentença “tem que ser assim” se dissolveram. a leveza não tem-que nada; a leveza é, corre em sintonia, ignora verbos e metonímias. não há forma, nem fórmula; só os dentes apertando um lábio.

- a gente se devia isso há muito tempo, né?

dia seguinte, ela inquieta, ele, quieto. Os dois, com as duas mãos cheias de amores. eles, inquietos. e ele de saída para encontrar um deles, ela, acusando-o por roubar seu lugar ao lado de um dos seus. antes que saísse, Sabrina segredou em um guardanapo de papel, sem que Lucas pudesse ver: “ontem, quase de manhã, acordei no meio dos meus travesseiros. não fica assim, achando que foi por álcool e eu já me esqueci... eu abracei um deles, e adormeci sorrindo. “

(e, para ler, uma coisa assim simples, gostosa, divertida… cardigans, talvez…)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Só o acaso pode nos parecer uma mensagem. Aquilo que acontece por necessidade, aquilo que é esperado e se repete cotidianamente é coisa muda apenas. Somente o acaso tem voz. Tenta-se ler no acaso como as ciganas lêem no fundo de uma xícara os desenhos deixados pela borra do café. (M. Kundera)

quê quer o acaso, violento, quando nos leva para a direção da qual fugimos? foice em punho, corto, arranco, mas sempre há uma raiz que se esconde e cresce forte e desafiadora, se enrola pelos meus pés, faz um laço na garganta; me deixa ver, me deixa ver, e as folhas, palmeiras, me tapam a visão, raio de luz ofuscando qualquer sentido, que, do mais, só é sentido. e só. ou o pó?, um espirro virulento, o estardalhaço desesperado a fim de negar a sina com afinco (cínico)? corre em desenfreio, a força da lua faz a maré voltar, alta, e nós não somos sem o pó que se evola em um grão de areia. dupla de seis em cada esquina, o relógio corre em círculos, lua cheia, o tempo gira, gira, um seis em cada esquina.