domingo, 18 de julho de 2010

-Não, você não sabe o que aqueles olhos tão castanhos têm pra te contar. Porque são tão castanhos, e tão densos. E sábios: desconfio seriamente que sabem de muita coisa que a gente nem imagina que existe. E combinam com a densidade quente e calma das suas saias, seu perfume e sua cor favorita de esmalte.
E com seu nome!, que se encaixa perfeitamente com o blues e com todo o resto. Parece que ela sabe o que é e o que não é dela - talvez daí venha aquela sensação que ela dá ao caminhar, é como se tivesse toda a certeza desse mundo, você entende? Coisa de mulher que já se desapegou da pelúcia, do romance açucarado; de mulher que é filha do mundo, filha do samba que toca com fé e autoridade, pedindo com força um par pra dançar na roda.
Mas, sabe qual é a verdade? Ninguém, ninguém ainda conseguiu acompanhar seus passos. Porque onde já se viu, homens que se deixam guiar pelo ritmo da moçoila é desacato à virilidade!
Sim, tem esses outros, da época da tristeza e de tuberculose, que morreram ainda de pena em punho, escorrendo a tinta do amor que não veio.
Mas, quê reservam os deuses pra essa menina senão raridades fora de estação, guardadas cuidadosamente em caixinhas com laço de fita? E, acabei de me lembrar: hoje ela puxa mais um laço. Canceriana, não é um ironia?