domingo, 24 de julho de 2011

- calúnia, você já procurou o significado etimológico de calúnia? parece latim, um uivo latino na segunda sílaba, bem representado. certas palavrinhas eletrizam, né? chegam na nossa cabeça, assim, de supresa, sem tocar a campainha, e brincam de roda. daí brigam, saltam umas sobre as outras, trepam. uma perde o sentido na outra, que quer ter vários, briga de ego, você já tentou pensar no tamanho do seu, assim, mensurado? medido, fechado, vedado, quantidade máxima de palavrinhas, inhas, que te azucrinam e te perturbam mais que a sensação de ter casquinhas de pipoca na garganta. imagine, passar a vida tentando tossi-las, sem sucesso? aí você pede pro seu, digamos, melhor amigo - parênteses, melhor amigo, melhor amigo, olha de novo a ideia de mensuração - abrir sua boca o máximo possível, empurrando seus dentes com a mão, e aí olhar lá no fundo, como aqueles domadores de leão: "não tem nada". dá vontade de engoli-lo, "agora tem". nem precisa chegar no fundo pra saber que se deseja, mais hoje do que ontem, ter alguma coisa, ser sujeito tratável, melhoral, como a aspirina. recauchutável, apaziguável. tá difícil, né? ah, como tá difícil! e eu só queria entender, racionalmente, essa necessidade idiota que temos de agir com a razão, você en-ten-de que contradição ridícula? razão deve vir de raso, não é, por favor, concorde comigo, você tem outra palavra pra isso senão fenômeno-contemporâneo?
-amor.

Contra a corrente

terça-feira, 12 de julho de 2011

para carol toffanelli

Par de brincos na cabeceira, ingressos de cinema, cinzeiro, garrafa. Despertador agudo, palpitante insistência.
Como toda criança que sonha, não quer acordar. Não antes de perder o nariz em terras fantásticas. Andar de mobilete em ruas bonitas. Farrear nas vias douradas, coloridas. Lambretar por aí.
Beijar, delicado e lascivo as pernas da Primavera. Depois, morder com virilidade a nudez do Outono. Que Sono!
Não Acorda. Fica assim, de bruços e quente, olhos fechados. Recusa a violência: escolhe o não ser.
Perpetua o amor fanático nas terras fantásticas. Visita teu amor arqueolólico. Contempla o asfalto rachado, a espera da última flor.
Toma um trago se preciso. Neon do bom, noite de luar.
Dança com os espectros em frente ao espelho, com as faces avermelhadas, aveludadas. Jovem Dorian corrompido, agora. Flutuante em preguiçosa malícia.
Depois, chora consigo baixinho que é pra ninguém ouvir!

                                                                                          Por Florence E. Manoel