As sutilezas da opressão

terça-feira, 16 de outubro de 2012

I

- o que você acha disso?
(o que eu acho disso? eu acho isso mesquinho, desimportante. acho que você foi egoísta o suficiente pra não perceber uma gotícula do que acontecia além do seu suor, acho que no mínimo você deveria encostar-se na parede do banheiro durante o banho e refletir sobre o quanto suas divagações rodam em círculos narcísicos e gosmentos, e procurar na sujeira do ralo alguma saída da situação.por outro lado, se te disser isso, você provavelmente me ameaçaria de alguma maneira que me faria sentir uma culpa terrível pelos próximos meses, e verteria todo o seu piche pra cima de mim, tornando o problema, além de meu também, insolucionável. mesmo conseguindo retirá-lo, ainda assim não seria capaz de te fazer lidar com a possibilidade de vocês mesma ter engendrado toda essa situação deplorável.)
- eu não sei, é difícil me pôr em seu lugar.
- eu não estou pedindo isso. só quero uma opinião. é tão difícil assim?!