semáforo

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

- em quê você tá pensando?
- ainda não perdeu essa mania? - indignou-se V., parando no meio da travessia da avenida com uma mão na cintura, divertida.
M. balançou a cabeça negativamente, concentrada em pisar somente nas listras pretas.
V. pensava no calor, nas contas em cima do criado-mudo, em bolo de laranja com calda de chocolate, no tamanho de seu quadril, nas refeições enlatadas, no encontro mal-sucedido da última sexta, no noticiário da tv e em um novo emprego. tudo atrapalhadamente, com o raciocínio cortado pela metade. não sabia ao certo se era por egoísmo, ou por preguiça.
e por egoísmo, ou por preguiça, quase foi atropelada por um carro despreocupado, verde-mar.
- e você ainda não perdeu essa mania? sua louca!
- não, mas estou pensando em absinto.- respondeu V. sorrindo, enquanto mostrava o dedo do meio para o carro que se tornara apenas um ponto de luz - você tem cubos de açúcar aí na bolsa?

Todo mundo tem um pouco

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

- Você já teve a sensação de estar sendo observado?
- Sim, geralmente no mictório. Por quê?
- Eu acho que estou sendo observada.
- Querida, somos eu e você no quarto. E aquele quadro ridículo.
- Olha como ela tá olhando pra gente. Vou pôr uma blusa.
- Ela quem, Amanda?
- A moça do quadro. Os olhos dela não eram assim quando eu comprei a pintura.
- Cadê a lista telefônica, neném?
- Pra quê?
- Vou ligar pro seu psicólogo. Você não deveria ter parado com a terapia.
- Ah, eu preciso de terapia? Quem é que tem medo de filhote de gato aqui?
- Psiii... fala baixo. O que vão pensar de mim? Eu sou macho!
- A-há! Então admite que tem alguém vendo a gente.
- Eu sempre desconfiei desse quadro. Vai, você tira ele de lá e eu acerto o espião com o abajur!

meia-noite

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

- essa é a parte que dizemos coisas bonitas um pro outro?
- eu acho que essa é a parte que nós temos esperança...
- ...de ter sol no carnaval? haha tim-tim, neném.

***

- hmm... shall we dance, doçura?
- com prazer, don juan. mas cadê a música?
- shhh, você realmente acha que somos os únicos dessa rua? ali, dois gnomos tocando um bolero.