sobre a carne

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

o sol perdia suas escamas – não pela aproximação do final de um dia colorido, mas para a vigorosa energia que ela irradiava, indolentemente, deixando-o em intangível palidez.

aproveitava o silêncio para patinar no ritmo do acorde de um certo violonista, que lhe atiçou aquela malícia deliciosamente sutil. contornando a fonte em formato de ostra, lambia um sorvete de morango, deixando, de propósito, o creme cair em sua regata branca.

um acorde, dois acordes. virgínia, tingida de inocência, colocava os dedos da mão livre na boca, lambuzados e tingidos de azul. dilatava suas pupilas cristalinas num olhar virginal para o moço que atava suas pernas, cheio de desespero.

... que desesperadamente cantava uma música que acabara de compor para ela, em um tom simples e ingênuo; floreado de clichês e açúcar.

mas virgínia – que perdera a razão do nome há muito tempo – queria lascívia. estremecer de frente e por cima, agressiva e sem pudor; comer seu coração depois de gozar.

com passos de bailarina, disfarçava sua embriaguês, distribuindo timidez quando aceitou um alerta patético e receoso.

ao ouvi-lo, imediatamente ensaiou um deslize e, enquanto ele a ajudava se levantar, ela aproveitou para olhar com ingenuidade o meio de suas pernas tiritantes.

num quintal mal-iluminado, vírginia, triunfante, esparramou-se molhada pela chuva sob os pêlos e delírios de seu querido suicida; impregnada de loucura, e sustentada pelo seu vício


*florence, pra você.

4 comentários:

Anônimo disse...

Você é fodonaaaaaaa!
te amo.

Anônimo disse...

Uui...
Um dia quero escrever assim...
E no outro quero ser a personagem.

Td de bom!
(Andorinha)

Anônimo disse...

eu adoro sua descrição, adoro.

Anônimo disse...

A carne ávida, ardendo dentro de dois corpos que de tão obscenos pediam perdão, santificavam-se.