Fim de ano

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014



De minha infância, me corre sempre à memória o dia em que me encontrei com o tempo. Foi durante a leitura de um livro, em que descobri que poderia escolher quando seria o momento seguinte da história contada. des-cobri, e já havia passado o momento anterior: algo que nunca, de forma alguma, voltaria. linha adiante, e mais outro momento que se foi; quis agarrá-lo para sempre porque ainda que fizesse parte de uma tarde inócua e tediosa, eu considerava propriedade minha. na lembrança, a Emília, Marquesa de Rabicó: a vida é um pisca-pisca; nasce, cresce, e um dia pára de piscar. Há mais de quinze anos, descobri que o tempo não pára.
Desde então, passo pelo tempo e não o vejo, como se estivesse bêbada em uma enorme festa, e tento  reencontrá-lo, suspenso no ar -  ou suspenso no vácuo -, fugindo em um balão sem cor. em uma tentativa vã de agarrar-me a momentos, eu, suspensa no ar, identificada com minha personagem favorita, respiro.
Respirei.
Adulta, procuro aceitar que a tentativa de controlar o que se esconde entre uma página e outra é vã. e então a nostalgia nada é senão a dor de encarar, à duras penas, a mortalidade de uma existência que não se dá pelas palavras, mas entre suspiros e espasmos.  

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