quarta-feira, 13 de abril de 2011

- olha, não solta da minha mão agora porque tá um puta frio lá fora, mas aqui dentro ferve. Agora, não. Me busca um copo de água, porque minha língua não cabe mais na boca. Fica aqui, assim, por perto, porque se você soltar só me sobra o cinismo pra não afundar de vez nessa sopa fria que tá o mundo. E aí eu seco, trinco, qualquer um que assoprar me faz de pó. Se inalar, fica louco, é vírus, olha, isso espalha. E cara, a galera tá com os braços mais fechados que o redentor no corcovado, te afasta fácil assim, ó, polegar e indicador, você vai pra bem longe remar no teu barquinho feito com três pedaços de madeira. Então fica aqui, me dá um abraço agora mas não aperta muito, porque eu sufoco e o mundo é grande, uma ervilha enorme, e deus come de aperitivo, você sabe que come. O que sobra pra gente é erguer os braços com força e empurrar, empurrar até que, pouco a pouco, a boca abre, vai firme, não escorrega paladar abaixo, não, Pinóquio, senão o nariz cresce dentro da barriga e aí você está preso para sempre e a mãe já está grávida de novo.

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