sexta-feira, 14 de maio de 2010

sim, eu fugi de você. fugi como se tivesse alergia à abelhas, e havia acabado de roubar todo o mel da colméia. corri, prestes a perder o ônibus.te encontrei, recuperando o fôlego. bom-dia, foi aí que o perdi de vez.
você, definitivamente, não precisava ter se sentado ao meu lado, era manhã e as poltronas estavam vazias e as pessoas cheiravam a desodorante, café e protetor solar. você já - ou ainda - tempestuosa, impregnando tudo com seu perfume forte e seu cigarro de filtro branco. e seu sorriso irônico, como se soubesse cada vírgula que se passa na minha cabeça. à merda, por que me perguntou sobre o sumiço, então? uma pena essa sua ingenuidade fingida ser um charme a mais.
sumi porque eu, infelizmente, amo esse perfume forte, o cigarro de filtro branco, o sorriso irônico e esses olhos grandes, que me despem a cada piscada. e essa petulância, essa graça, esses vestidos transados e essa pinta no queixo. e eu quero que esse sentimento todo escoe pra bem longe de mim porque você sabe qual é a nossa.
sabe, mas se delicia ao desafiar o corolário das paixões sem nexo e sem sexo. seria um desastre. porque você só quer a si mesma e é tão ridicula que tem consciência disso e ainda insiste com palavras bonitas, e eu... eu te acho linda. e perigosa, e auto-destrutiva. vejo tudo isso quando você dá aquele seu sorriso. aquele que nem o padeiro, nem os bebês com os quais você se encanta na feira, nem sua mãe e muito menos o cara que está ridiculamente apaixonado por você ganham. talvez algum barman, na hora de aumentar a dose do seu martini, e eu. não é pretensão; eu o considero uma praga. porque não é sincero, é lindo e cativante, e é por puro interesse. inabalavelmente sedutor, e eu cerro meus dentes e peço força à deus pra não cair nessa. e é graças à ele que você não se lembra de quando, com todo o seu charme ébrio, segurou meu braço e recitou o indizível em poesia. nessa noite, cortei cada um de seus tentáculos com o meu desejo de manter você por perto assim, acobertada sob panos quentes e falando de amizade.
e tá tudo uma merda. eu queria perder a razão, e acordar com o cheiro do seu café pela manhã. e quebraríamos todas as xícaras em seguida, e nos odiaríamos e não haveria mais versos.
perder a razão, o rumo e as amarras, querida. e aprender a lidar com o desencanto. isso implica no desleixo da maquiagem borrada e das unhas por fazer deixarem de ser apaixonantes. não, não vale a pena. uma pena.

2 comentários:

Insolente disse...

parece ser cruel essa fuga louca de alguma coisa mais clara um pouco, que a gente joga pra baixo do tapete e fica só com o superficial. Mas é compreensível, não?! Tão bom ficar pra sempre preso nos olhos bonitos, sem precisar perder a alma inteira.

Anônimo disse...

Mew. Eu sinceramente não sei comentar esse. E eu acho tão chato dizer que gostei sem conseguir dizer algo a respeito. De fato é cruel (apelando pro comentário de cima), mas é medonho. Acho que faz tanto tempo que fujo de mim mesmo que esqueci como é fugir dos outros. Fugir de algo que te conquista. Já vi isso antes. Me parece uma fuga tão irracional, mas por algum motivo… por algum motivo… (pensei em escrever agora: vou fugir de comentar esse… mas logo pensei: isso vai ser tosco).

Calaiu, Insolente fez um comentário decente em 5 linhas, e cá estou jogando letras desenfreadamente que não dizem nada. Hum… viu por que que não tenho mais blog? aeoihaeoiheaoaehi

Talvez seja sono. Ou minha velha ignorância. Bem, comentários não são para falar de mim. Mas acho que tenho algo prá falar sim. Ando pensando nisso ultimamente… hehehe. Perder a razão, e aprender a lidar com o desencanto. Será que realmente não vale a pena? Eu também acho que não vale, mas tem sempre um inseto irritante aqui dentro que tenta me convencer do contrário. =P