sobre o primeiro arranhão

sexta-feira, 12 de março de 2010

- gostou? - perguntou, enquanto enfrentava uma batalha interna contra sua euforia.
- então, não deu pra ler... eu comprei alguns livros durante as férias, e não deu tempo pra esses.depois você me empresta de novo.
- entendi. eu empresto, sim. bom, já vou... vou me atrasar pro almoço.
ganhou um "ok" e um beijo rápido, superficial, não entendia porque as pessoas encostam as bochechas nas suas e estalam os lábios para o ar, para cima, como se o alvo fosse um passarinho.
e correu. correu como nunca, levando quatro livros grossos na mochila quase infantil. estava tudo ali; nas entrelinhas, no cheiro, no marca-páginas. todas as palavras que nunca seriam capazes de sair de sua boca tímida e pateta. todos os seus sentimentos embotados e atropelados, desesperados.
o garoto mais bonito do colégio. e desdenhou os seus tesouros, e não a olhou nos olhos. sequer, ofereceu carona na garupa da bicicleta.
mas ela continuou correndo com o peso dos livros e o peso da dor; e caiu. tropeçou nos próprios pés. foi humilhante. trouxe para perto do corpo o joelho que sangrava, e chorou, e soluçou descabidamente: pelo joelho ralado, e pela melancia que só brota na garganta dos que se apaixonam pela primeira vez.

4 comentários:

Andrezini disse...

adoro o teu blog!! bjs encontra-me em http://voavoa.blogspot.com

Insolente disse...

ah, as vezes eu me esqueço dessas coisas! Saudade dos bilhetinhos de coraçõezinhos, dos cinemas, dos olhares que não ousávamos dar...ficou tão bonito, c.

Dayane Abreu disse...

Esses são os melhores restos e raspas que já apreciei.
Você é uma fofa, Carol.

Rodrigo Trevizan disse...

Por algum motivo me lembrei daquele conto da Clarice que se eu não me engano é o primeiro do Felicidade Clandestina. Aquele da menina que queria emprestado o livro do Monteiro Lobato mas a menina sádica não emprestava pra ela. Sei lá. Gostei do teu jeito de escrever

^^