sábado, 29 de outubro de 2011
Longe da turbulência cotidiana, o estupor de uma noite abafada sentencia: restos da lembrança de um janeiro sem chuvas, ranço amanteigado de lágrimas que inflavam-me impiedosamente os rins. Acabrunha-se agora, tímido, o cinismo de novembro: a despedida da primavera, flores murchas e rancorosas que há meses teimam seu lugar, invejosas do suco que escorre dos pêssegos que passeiam pelas bocas febris, habitadas pelo insulto e pelo escárnio.
- Dr. Jekyll – chamo em desafio frente ao espelho – qual era a metáfora do monstro?
Exercício de escárnio, escolho novas correntes, tecidas delicadamente de rendas e tafetá, acolchoadas em meus pulsos inquietos e descompassados – cativos, expressão máxima da liberdade de aprisionar-se pelo preço da incerteza oracular. Corrida com os seios e o sexo expostos, extermínio da espera: escusa-me pai, mas o leite secou e não há lugar algum para voltar.